Ensino Fundamental I
Neurociência: Aprendizagem por dentro
Nunca descobrimos tanto sobre o cérebro quanto nos últimos 20 anos. Como as pesquisas de neurociência podem impactar a escola, hoje e no futuro.
Você já imaginou se fosse possível ver o que acontece na cabeça do seu aluno durante uma aula?
Pois um grupo de pesquisadores do Departamento de Psicologia da Universidade de Nova York e de outras universidades se propuseram a realizar essa façanha. Eles publicaram, no ano passado, os resultados de um estudo que observou uma sala de aula de um ponto de vista até pouco tempo inacessível: de dentro do cérebro dos participantes.
Os pesquisadores formaram um grupo de jovens com idade de 12 alunos de Ensino Médio e um professor. Além da observação externa, os cientistas instalaram em cada aluno e no professor um aparelho de eletroencefalograma capaz de monitorar as ondas cerebrais e enviar as informações a um computador.
Ao longo de 11 dias, os pesquisadores acompanharam a atividade cerebral durante quatro tipos de atividades (aula expositiva, exibição de vídeo, leitura e discussão da matéria) e algumas situações de interação (olhando para o professor, olhando entre si, próximos de colegas queridos e de menos próximos).
Objetivo
O objetivo era avaliar a intensidade da chamada sincronia: quando os sensores apontam atividade cerebral igual ou muito semelhante entre dois ou mais indivíduos que executam uma mesma tarefa, ao mesmo tempo. Ou seja, os cientistas queriam descobrir se alunos e professores estavam "em sintonia" durante a aula.
Conclusões
Entre as quatro atividades, vídeos e discussões em grupo geraram maior sincronia entre os cérebros. Por outro lado, notou-se que o método não era tudo. Estudantes com maior capacidade de foco mantinham-se alinhados com o grupo e o professor, independentemente da tarefa. "Esses achados demonstram que fatores individuais contribuem para a sincronia além da natureza do próprio estímulo", afirma o estudo.
Outra descoberta
A empatia entre professor e aluno e entre estudantes tem grande peso. Os pesquisadores passaram um questionário para descobrir como eram as relações sociais. Os jovens que tinham mais afinidade com o professor, geralmente, estavam mais em sincronia do que os que possuíam menor afinidade. E mais: ela aumentava muito quando alunos faziam contato visual entre si e compartilhavam uma mesma tarefa.
Quer dizer que a neurociência
Descobriu que, colocando os estudantes de frente uns para os outros, abolindo a aula expositiva e mantendo relações de afeto com a turma, todos aprenderão mais? Bem, não é simples assim. Os resultados dão uma pista para compreender a aprendizagem, mas muitas coisas ainda são um mistério.
Afinal, essa é apenas uma pesquisa em um ambiente específico, e ainda há muito o que fazer. O físico americano Michio Kaku, em seu livro O Futuro da Mente, chega a comparar a complexidade do cérebro humano à do Universo.
E acredita-se que uma série de respostas sobre quem somos e como aprendemos ainda estejam escondidas nesse pequeno cosmos. Por essa razão, empresas e governos têm investido cada vez mais nessa corrida. Por exemplo: em 2013, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lançou a Brain Initiative (Iniciativa cérebro, em tradução livre) com um orçamento de 110 milhões de dólares para o desenvolvimento de tecnologias capazes de aprofundar a investigação sobre a mente humana.
Mas antes mesmo desse impulso, a ciência obteve avanços enormes na área - e em tempo muito curto: houve mais descobertas nos últimos 20 anos do que nos últimos dois séculos. A neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, em A Vantagem Humana, conta que até recentemente a ciência trabalhava com hipóteses equivocadas para explicar a capacidade humana de aprender. Pensava-se que a origem dela estava no tamanho de nosso cérebro em relação às dimensões do corpo. Ele seria, proporcionalmente, muito maior do que o de outros animais (o que não se sustenta, pelas últimas pesquisas), mas não se sabia sequer a quantidade de células presentes no órgão - descoberta feita pela própria Suzana.
O salto da produção científica que nos permitiu conhecer melhor o funcionamento dos nossos pensamentos ocorreu a partir da década de 1990, com o uso das tecnologias de imagem. "Passamos a enxergar que existem áreas responsáveis por cada função e como elas interagem entre si", explica Li Li Min, neurologista da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. "A neuroimagem também permitiu saber mais sobre o desenvolvimento desse órgão, que madura até os 25 anos de idade, mas pode se modificar com o tempo", completa. Outro fato já conhecido é a importância dos primeiros anos de vida no crescimento das conexões, e que os estímulos externos são decisivos (leia mais em https://novaescola.org.br/conteudo/10259/aprendizagem-por-dentro ).
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